Acordei menos cedo do que poderia, e tomei um café da manhã digno, no McDonalds: dois croissants recheados de chocolate, para dar energia na caminhada. Minha intenção era participar do Alternative Tour de Berlim, porém como não poderia participar no horário das 11h, resolvi dar uma volta e ir no de 13h. Aproveitei para comprar um passe de 72 horas para o transporte público antes de sair andando pela cidade, Só depois descobri que se tivesse comprado 3 passes de um dia, teria economizado quase 5 euros!
Nessa volta, fui até o Checkpoint Charlie, que era a principal passagem entre Berlim Oriental e Ocidental durante a Guerra Fria. A passagem, obviamente, não era autorizada a residentes da Berlim Oriental. Agora virou um ponto turístico bem popular, e é praticamente impossível tirar fotos sem gente passando na sua frente a não ser que você vá para o meio da rua, e aí o risco é ser atropelado por algum motorista alemão.
Com a ida até lá, atrasei para voltar e perdi o tour das 13h. Levemente desanimado pelo fato, voltei ao hostel para descansar um pouco e decidir o que fazer com o resto do dia. Decidi ir no tour de 15h, mesmo sabendo que metade dele seria no escuro, por causa do horário em que está anoitecendo por aqui.
Peguei cheeseburguers no McDonalds como almoço, e fui comendo no caminho até o ponto de encontro do Tour. Quase me atrasei de novo, mas felizmente cheguei a tempo.
Nossa guia foi uma britânica que mora em Berlim há 4 anos, Penny. Simpática de uma forma bem europeia, e com o clássico e maravilhoso sotaque Inglês.
A primeira parada do tour foi a Haus Schwarzenberg, uma propriedade no bairro judeu no centro de Berlim, que durante a guerra foi até usada como uma oficina para fabricação de pincéis, que empregava e escondia Judeus cegos e surdos. O dono da oficina, Otto Weidt, fazia o possível para evitar que a Gestapo encontrasse e enviasse seus empregados para campos de concentração.
Depois da queda do Muro de Berlim, o prédio ficou desocupado até passar a ser usado por um grupo artístico chamado “the Dead Chickens” em 1995. Atualmente abriga um museu dedicado a Otto Weidt, além de uma exposição sobre a vida de Judeus locais durante a Segunda Guerra, e também algumas lojas e um bar. Para completar, suas paredes são uma ótima exposição de street art.
De lá, passamos pela East Side Gallery (que é o maior pedaço do Muro de Berlim ainda de pé), para chegar até o YAAM, uma comunidade jamaicana que tem até uma praia! Bem, é na margem do rio, é de areia, mas não é beeem uma praia… De qualquer forma, lá eles tem um bar, promovem shows, e com isso arrecadam fundos que são usados para a construção de escolas na jamaica. Mas como nem tudo são flores, a propriedade onde essa comunidade fica foi comprada e provavelmente vai virar um prédio de lofts, em dois meses eles serão despejados. Como até agora não tem qualquer outro lugar ondem possam manter as operações, o futuro não é muito promissor.
Passamos também em frente à Baumhaus an der Mauer, uma “casa na árvore” construída NO Muro de Berlim. Ela foi construída por um imigrante turco, utilizando inclusive móveis jogados fora, como os estrados de cama usados na varanda. Depois de algumas ordens de despejo, às quais o morador respondeu concretando todos os móveis ao chão, descobriu-se que a casa ficava em propriedade de uma igreja próxima. Por esse motivo, a igreja precisava autorizar o despejo. Com uma boa dose de “jeitinho Turco”, o morador consegui que a igreja se compadecesse de sua situação, e por aprovarem seu estilo de vida e sua ética familiar, acabaram por lhe doar a terra. Fato curioso, dado que ele é muçulmano.
O dono da casa, Osman Kalin, já na faixa dos 80 anos, ainda vive lá. Como a construção não é ligada à rede de água, Osman troca semanalmente um suprimento de água por frutas e verduras de seu jardim, com os moradores do prédio do outro lado da rua.
Terminamos o tour no centro de Kreuzberg, o bairro Turco da cidade, apelidade do “Little Istambul”. O lugar tem uma diversidade cultural incrível, e uma quantidade enorme de cafés, restaurantes, bares e lanchonetes interessantes. A última parada do tour foi uma pequena galeria de dois pintores e ilustradores que criam monstros bem coloridos e simpáticos. Trabalho muito legal!
Comi um lanche em Kreuzberg, e voltei para o hostel de metrô. Não consigo descrever o meu arrependimento por não ter usado mais os trens e metrôs ontem, ainda mais com a chuva…
Analisando as coisas que ainda quero ver e fazer na cidade, cheguei à infeliz conclusão que não terei tempo para tudo. Ainda preciso decidir o que vou abandonar…
Foto de finalização, uma pintura linda no Muro: